Por que eu caio mesmo quando tenho tanta boa vontade?
Essa é uma pergunta que intriga todas as pessoas que genuinamente se importam com suas vidas espirituais. Na verdade, o próprio São Paulo, depois de falar acerca da luta entre a carne e o espírito, grita com voz forte em Romanos 7: “Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?”.
Se examinarmos nossos corações, poderemos reconhecer verdadeiramente que, muitas vezes, desejamos fazer a coisa certa. Queremos controlar nosso temperamento. Resistir às tentações da carne. Vencer nossa preguiça e complacência a fim de servir aos outros. Amar como Cristo amou.
Entretanto, se examinarmos nossas ações, frequentemente nos rebaixamos ao menor denominador comum e caímos em pecado diante da menor tentação. Espiritualmente, é como se déssemos um passo para frente e três ou quatro para trás.
Comprometemos nossa coragem e força de vontade, decidimos nunca mais falhar. E então caímos de bruços num breve momento depois. Isso pode levar ao desânimo, até mesmo ao desespero. Pois os homens odeiam e temem poucas coisas quanto o fracasso.
Por que Deus permite nossas falhas
Por que Deus, tantas vezes, permite nossas falhas, apesar de nossas frequentes orações fervorosas implorando por Sua ajuda e graça? Por que caímos tantas vezes nas amarras do pecado quando queremos tanto ser livres?
A resposta é simples: humildade.
Não há pecado maior que o orgulho. Não há pecado mais contrário ao amor fulgurante que é Deus. É o pecado mais odioso à natureza Divina. O orgulho corrompe e destrói tudo com o que entra em contato. É o primeiro pecado e o último.
E é sutil. Traiçoeiro, até. Pode corromper facilmente nossos trabalhos mais virtuosos, corroendo-os de dentro para fora. Esse é o caminho da morte.
Deus sabe disso, é claro, mas nós frequentemente não. Pensamos estar progredindo espiritualmente quando, na verdade, estamos apenas contribuindo para nosso sério vício de autoconfiança e autossuficiência. Pensamos estar crescendo em virtude quando, na realidade, estamos apenas ficando satanicamente satisfeitos com nossas próprias habilidades.
E, dessa forma, Deus permite que caiamos. Vendo-nos crescer em autoconfiança, ele oculta sua graça e nos permite enfrentar a realidade com nossas próprias forças. As quais, é óbvio, são iguais a zero.
Essa foi a verdade o tempo todo, mas nós nos recusávamos a vê-la. Acreditamos estar fazendo coisas boas por nós mesmos quando, na verdade, era Deus quem estava fazendo tudo. A queda é, muitas vezes, o único jeito de nos ensinar a lição que Cristo incessantemente ensinou aos seus discípulos: Sem mim, nada podeis fazer.
O precioso dom da humildade
Deus sabe que não há pecado mais perverso que o orgulho. Mas ele também sabe que não há maior virtude que a humildade. É a raiz de todas as virtudes; o tronco da árvore da vida. Cristo permitirá que caiamos de novo e de novo – dez mil vezes, se for necessário – para nos ensinar essa lição. Porque não há nada mais a aprender.
O que Deus quer é que nos entreguemos. Ele quer que caiamos no mais profundo de nós mesmos e que gritemos como São Pedro em meio aos ventos e às ondas do Mar da Galileia: “Senhor, salva-me!”. Esse grito de total desespero é o real começo da vida espiritual. É o início da verdadeira liberdade.
Como é difícil para nós assumirmos esse lugar! Se há uma partícula de evidência de que podemos fazer algo por nós mesmos, apegar-nos-emos a ela com toda a força. Algo no profundo de nosso ser resiste à fraqueza, à dependência. Nós fugimos disso. Ousamos não reconhecer o nosso nada. Isso é uma constatação pior do que a morte.
E é assim. Humildade é um tipo de morte – mas uma morte que não é um fim, senão um início. Somente quando descemos até o túmulo da derrota total é que podemos ressuscitar para uma nova vida interior.
Isso nos remete à pergunta de São Paulo citada no começo deste artigo: Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte? Sua resposta é a única resposta: Nada além da graça de Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Quando nós falhamos e caímos, estamos na dolorosa, porém vivificante, escola da humildade. Pois a porta do céu é muito estreita, e somente os humildes conseguem adentrá-la.
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Autor: Sam Guzman
Fonte: The Catholic Gentleman
Traduzido por Tiago Veronesi Giacone – membro da Rede de Missão do YOUCAT BRASIL, servindo nos Núcleos de Tradução, Formação e também participante do Grupo de Estudo YOUFAMILY em Brasília–DF.