Contemplando a Eucaristia como o Verbo Místico de Deus

As duas liturgias da Missa – a da Palavra e a Eucarística – estão intimamente relacionadas.

Pode parecer que não estejam. A primeira envolve as Sagradas Escrituras, a palavra escrita. A outra é um encontro com Cristo, de fato presente no pão e vinho consagrados na plenitude do corpo e da alma, humanidade e divindade.

E, no entanto, a primeira nos leva em direção à segunda. Pois, na Eucaristia, nós também recebemos a Palavra – o Verbo feito carne. A relação entre as duas liturgias toma, então, uma dimensão mística. Na primeira, nós recebemos as palavras de Deus. Na segunda, nos é dado o próprio Verbo de Deus.

Existem dois modelos bíblicos de como uma leva a e reforça a outra.

Primeiro, há a história do chamado de Isaías. O momento crítico ocorre quando Isaías testemunha a adoração ao altar celestial:

E um dos serafins voou em minha direção; tinha em sua mão uma brasa que havia tirado do altar com uma tenaz. Com ela tocou-me a boca e disse: “Agora que isto tocou os teus lábios, foi removida a tua culpa e perdoado o teu pecado”. Então ouvi a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei, e quem irá por nós?” E eu disse: “Aqui estou, envia-me!”. (Is 6, 6-8).

Nessa narrativa, a sequência está invertida. A brasa quente – uma prefiguração da Eucaristia – toca os lábios de Isaías. Somente depois ele ouve a voz do Senhor chamando por ele. Para Isaías, há um duplo relacionamento com as palavras do Senhor: ele é tanto um destinatário quanto um pregador delas, como um profeta.

A conexão entre o escutar, o falar e o comer de modo profético é reforçada em Ezequiel:

Quanto a ti, filho de homem, ouve o que eu te falo. Não sejas rebelde como esta corja de rebeldes. Abre a boca e come o que eu te dou. Eu olhei e vi uma mão estendida para mim, e nela um livro enrolado. Desenrolou-o diante de mim. Estava escrito na frente e no verso e continha cantos fúnebres, lamentações e ais. (Ez 2, 8-10).

Literalmente, Ezequiel é convidado a ‘comer’ as palavras de Deus contidas no livro (esse comer literal também é retomado em Apocalipse, capítulo 10). Então, no capítulo seguinte, Ezequiel consome o livro e começa a falar palavras de profecia.

Também para nós a Eucaristia é o que nos permite a ouvir e digerir devidamente as divinas palavras do Antigo Testamento, dos Salmos, do Novo Testamento, e do Evangelho que ouvimos na Missa. E, assim como Isaías, a Eucaristia é também o que nos permite proclamar a Boa Nova aos outros. Numa forma muito real, a Eucaristia nos transforma no corpo de Cristo, dando-nos Sua própria voz a fim de sermos mais capazes de partilhar suas palavras de vida eterna com os outros.

O segundo modelo, através do qual a Escritura é entrelaçada à Eucaristia, é a Anunciação do Anjo à Maria. O Papa Bento XVI explica como: “Maria recebe o Espírito Santo dentro de si. Tendo-se tornada pura ouvinte, ela recebe o Verbo tão completamente que ele se tornou carne nela” (Mary: The Church at the Source). De certa forma, a escuta da palavra por Maria foi mais pura do que aquela de Ezequiel: ela não precisou comer nenhum livro; ela ouviu as palavras de Deus – ditas através do anjo – tão perfeitamente que elas tornaram-se Corpo dentro dela.

Essa, então, é a segunda maneira de se refletir sobre como a Liturgia da Palavra está ligada à Liturgia Eucarística. Todos nós somos chamados a ser como Maria: receber tão profundamente a palavra de Deus que ela se torne uma realidade encarnada dentro de nós. No entanto, nenhum de nós tem a plenitude da graça de fazer isso sozinho. A beleza da Santa Missa é que Deus faz isso por nós na Liturgia Eucarística.

Por Stephen Beale

Stephen Beale é um escritor freelancer que mora em Providence, Rhode Island. Criado como um protestante evangélico, ele se converteu ao Catolicismo. Era editor de notícias no GoLocalProv.com e foi correspondente do New Hampshire Union Leader, através do qual cobriu as eleições presidenciais de 2008. Nativo de Topsfield, Massachussetts, ele se formou na Brown University em 2004, com graduação em História. Suas áreas de interesse incluem Páscoa Cristã, Teologias Eucarística e Mariana, história medieval, e os santos.

Fonte: Catholic Exchange

Traduzido por Gabriel Dias – Membro da Rede de Missão Campus Fidei.

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