Normalmente referida como “o melhor segredo da Igreja”, a Doutrina Social é central para a nossa fé cristã, representando a nossa sabedoria coletiva – dos textos bíblicos às encíclicas papais e à teologia moral moderna – de como viver o chamado cristão para amar o seu próximo como a nós mesmos. E, ainda, nós, como Igreja, não costumamos falar muito sobre isso.
De uma forma ou de outra, cada santo, cada pessoa santa, cada cristão comprometido praticou esses ideais nas suas próprias vidas. O exemplo deles pode nos ajudar a crescer em santidade e verdadeiramente nos tornarmos a “luz do mundo” que Jesus nos chama a ser. Catequistas identificaram sete temas que nos dão um resumo e olhar geral da Doutrina Social da Igreja. E olhar para esses temas através da vida dos santos e dos grandes homens e mulheres da Igreja nos permite vê-los na prática.
1. Direitos e responsabilidades
Nossa fé católica nos ensina que todo ser humano tem o direito fundamental à vida, dignidade e necessidades básicas. E nós temos a responsabilidade de sustentar os direitos do nosso próximo.
O bispo salvadorenho e mártir Oscar Romero viveu essa responsabilidade. Ele era modesto, clérigo pastoral, que apenas queria servir seu povo e acreditar que o governo faria o mesmo. Mas quando ele viu que as pessoas estavam sendo mortas e oprimidas, Romero percebeu que ele não poderia, em sã consciência, ignorar esse dever moral de falar e agir.
Mesmo que tenha custado a sua vida, Romero percebeu que, quando as estruturas do governo e da sociedade falhavam em respeitar os direitos humanos básicos, o Cristão tem a responsabilidade moral de proteger o direito de todas as pessoas.
2. Vida de dignidade humana
Nosso direito fundamental é à vida e à dignidade, como somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Nós usamos a imagem da veste de Cristo sem costura na crucifixão (Jo 19, 23-24) para representar nossa crença de que a vida humana deve ser amada na sua totalidade, desde a concepção até à morte natural.
O papa Francisco recentemente trouxe essa ponte quando ele emendou a passagem do Catecismo sobre a pena de morte. Onde antes o ensinamento da Igreja permitia que os governos administrassem a pena de morte “se essa fosse a única forma efetiva de defender vidas humanas contra agressores injustos”, o novo texto incita as autoridades cívicas a esforçarem-se por um compromisso mais profundo com uma ética de vida consistente. “O ensinamento da Igreja ensina que ‘a pena de morte é inadmissível, porque é um ataque à inviolabilidade e dignidade da pessoa’.”
3. Optar pelo pobre
Todas as pessoas têm direito às necessidades básicas da vida – comida, bebida, vestimenta e abrigo. Nós chamamos isso de Destinação Universal dos Bens. Os ricos e abundantes recursos da Terra são de Deus, destinados ao bem de todas as pessoas e não apenas de alguns poucos selecionados.
Jesus se identifica com os pobres e sofredores. Sempre que nós fazemos (ou falhamos em fazer) aos pobres perto de nós, estamos servindo (ou ignorando) a Cristo (Mt 25, 31-46). Santa Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade, era especialmente consciente disso. Ela dizia às irmãs que observassem como o padre na missa segurava a eucaristia com cuidado e devoção. “Não se esqueça”, ela dizia, “que Cristo é o mesmo Cristo que você toca nos pobres”.
4. Família e Comunidade
Os seres humanos são desenhados para serem seres sociais. Quando Deus criou a humanidade, Ele disse que não era bom que estivéssemos sozinhos, então, encontramos preenchimento na família, na comunidade e na sociedade.
Antes de se converter ao catolicismo, Doroty Day era uma comunista radical. Depois da sua conversão, uma das suas amigas disse que ela sempre foi muito espiritual para ser uma boa comunista. No catolicismo, provavelmente, ela encontrou o ideal que sempre procurou: Vida comunitária com profundas raízes espirituais.
O movimento fundado por ela (Catholic Worker movement) reuniu uma variedade heterogênea de radicais e ativistas, artistas e anarquistas, peregrinos, mendigos e prostitutas. Modelado antes das comunidades cristãs, onde “mas tudo entre eles era comum” e tudo “repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade” (At 4, 32-35). O objetivo era, como Day colocava, “fazer uma forma de sociedade na qual fosse mais fácil para as pessoas serem boas”. A busca pela perfeição do Reino de Deus entre as imperfeições humanas era, e ainda é, um estilo de vida desafiador, mas ela acreditava que o que construímos nessa vida é a fundação para a vida que está por vir, e isso significa que aprender a viver junto e amar uns aos outros. Especialmente quando é difícil.
5. Dignidade do trabalho e direito dos trabalhadores
Todos nós passamos muito tempo trabalhando. É assim que cooperamos com o trabalho de Deus na criação, e como tal, todos os trabalhadores devem ter uma dignidade inerente a isso. Inclui-se garantir que os trabalhadores vão receber um pagamento justo pelo trabalho que eles fazem. Tanto para o trabalhador como para o empregador, o trabalho deve ser mais do que rendimento.
Um dos membros fundadores da ordem dos jesuítas e um grande companheiro de Santo Inácio de Loyola, São Pedro Fabro, foi recentemente canonizado pelo Papa Francisco. Na mesma época, a Nation Catholic Reporter publicou um artigo sugerindo-o como o patrono do trabalho. Ele foi um pioneiro em entender o trabalho como um agente moral na sociedade.
Ao observar uma área de pobreza galopante, Faber escreveu certa vez: “Talvez se tivéssemos talento para os negócios… poderíamos nos preocupar mais com este problema”. Ele viu que os negócios, assim como a caridade, podem ser uma solução a longo prazo e sustentável para a pobreza. Ele também reconheceu o “talento para os negócios” como um dom espiritual, que poderia ser cultivado para servir o bem comum.
6. Solidariedade
No Credo Apostólico, professamos a nossa fé numa Igreja una (unificada) e católica (universal). O que isto significa, simplesmente, é que todas as pessoas do mundo são nossos irmãos e irmãs em Cristo.
Em 1987, num momento em que o globalismo econômico se tornava a maior força no mundo, João Paulo II escreveu a encíclica “Sollicitudo rei Socialis”, com um pesado foco na necessidade global de solidariedade.
Nós somos guardiões dos nossos irmãos (e irmãs). À medida que nossa cultura, economia e estilo de vida se tornam mais globalizados, precisamos reconhecer o impacto que temos nos outros. Coisas básicas como onde compramos pode dar suporte ou explorar trabalhadores ao redor do mundo. Solidariedade significa se esforçar um pouco mais em nos educar e aprender como podemos ajudar nossos irmãos e irmãs em Cristo.
7. Cuidado com a Criação de Deus
Como mencionado antes, a Terra e tudo que pertence a Deus e nela existe foi confiado para o bem de todos. São Francisco de Assis tinha uma compreensão profunda e única da criação como um dom sagrado de Deus para todos. A criação não é uma fonte a ser explorada, mas um presente de Deus a ser valorizado e protegido.
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Autor: Josh McDonald
Josh McDonald é um especialista em artes criativas; cantor, contador de histórias, escritor, cartunista, ator, diretor e cineasta. Ele se envolveu em quase tudo um pouco. Atualmente, ele está nos primeiros estágios dos estudos para o diaconado. Os próximos anos de treinamento em espiritualidade, ministério e teologia lhe darão muito sobre o que escrever.
Fonte: Busted Halo
Traduzido por Maria Augusta Viegas – Membro da Rede de Missão Campus Fidei